quinta-feira, 18 de março de 2010

ESPELHO;*


'' Ao chegar ao hospital e abrir a porta do quarto, percebi que ela não era mais a mesma. A boneca dos olhos azuis, apelido dado por mim àquela mulher cujo nome é Jacy Reis, estava sentada em uma poltrona acolchoada, de frente para a televisão. Ao seu lado estavam suas companheiras de todo final de tarde. Ao perceber minha presença sua pequena e rosada boca sorriu como da última vez que tínhamos nos visto. 

Com um sorriso largo e branco alegrando sua face, ela tentou levantar, mas, como sua saúde já não era a mesma de dois anos atrás, as mangueiras ejetadas por agulhas em seu braço não permitiram seus movimentos. Ao me aproximar alisei o seu rosto fino, com marcas do tempo, especialmente ao redor dos olhos, tirei seu óculos de grau, e enxuguei as lágrimas vindas daquele azul que tanto me fascinava e me fazia vê-la como uma boneca. Olhos os quais, nem eu e nem minha mãe herdamos.

Sem desviar meu olhar do azul do seu rosto, inclinei um pouco o corpo para que pudéssemos nos abraçar, e com uma voz suave como a brisa do mar ela disse: - Apesar de tudo, eu estou bem, nega! Afastamos-nos, ela voltou a encostar-se na tão agradável poltrona, e eu sentei na cadeira ao lado. Apenas ela e Deus sabiam o quanto tal situação era difícil. Além da falta de ar e das dores, enfrentar uma bateria de medicação, ficar enjoada, vomitar, sentir a boca seca, tudo isso era muito doloroso para uma “boneca” não mais tão jovem. Suas mãos enrugadas, ao mesmo tempo hidratadas, com unhas bem feitas e pintadas com esmalte de cor rosa claro, demonstravam o seu cuidado com a aparência. A prova de que ainda existia vaidade diante de um tumor maligno.

Enquanto conversávamos, essas mesmas mãos retiraram um lenço marrom com detalhes azuis e dourados, que enfeitava seus cabelos, ou melhor, sua cabeça. Era o momento das lágrimas escorrerem sob meu rosto. O cabelo liso, ruivo com mesclas grisalhas tinha sido fraco diante do processo avassalador chamado quimioterapia. Não consegui me conter, chorei como uma criança ao ver seu brinquedo favorito quebrado. Diante do meu desespero, mais uma vez, a dona dos lindos olhos azuis demonstrou coragem e determinação, ao dizer palavras que cabiam a mim falar para ela naquele momento. O seu corpo magro me acalentou com certo esforço, devido a toda a aparelhagem que a cercava, mas, em poucos segundos voltamos a sorrir.

Com o término da primeira medicação, enquanto o médico preparava a segunda dose, ele sugeriu que ela descansasse um pouco, apoiando as pernas brancas e alongadas, legítimas de uma catarinense com descendência Italiana, em um banquinho de plástico. Logo em seguida, foi colocado nos sinais do seu rosto creme para evitar problemas como aquele, no futuro. Não demorou muito, até que, novamente uma agulha foi enfiada em seu braço, era o aviso de que a sessão de tortura continuaria. Enquanto isso, eu saí do quarto para comprar lanche para ela. Era o momento de alimentar aquele corpo de 1,75 metros de altura. 

Ao retornar ela já estava recebendo em forma de soro, a terceira e última medicação do dia. Entreguei-lhe café e um sanduíche de pão caseiro que ela tanto gostava. Graças á Deus o tempo não nos permitiu ficar mais ali. A dose terminou nos levantamos, ela se despediu de todos, e fechou a porta. Na saída do hospital meu avô já nos esperava, de mais um final de tarde de luta para minha avó.''

~~

Meu tequilizar de hoje;* é de reviver um texto que fiz no primeiro período na Universidade, o objetivo era narrar uma emoção forte. Acho que consegui, narrar a força do meu espelho.Quem tem VÓ, tem tudo nessa vida;) Eu tenho duas.

[Música para terminar a noite bem]

Nem mesmo o céu
Nem as estrelas
Nem mesmo o mar
E o infinito
Não é maior
Que o meu amor
Nem mais bonito...



5 comentários:

  1. Ah.......... é muita emoção mesmo!! A alegria que vc passava por está escrevendo esse texto era impressionante e linda de se ver!!

    Bjo tanga

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  2. que Deus abençoe esse dom q vc tem de escrever palavras tão bonitas...
    sua vozinha eh uma guerreira! que deus ilumine sempre o caminho dela... e muita força e saúde para q ela continue lutando!
    "sorte d quem tem avó"... eu tenho uma... q amo infinitamente!
    bjs amiga q amomuthummm:)

    Mara Luciana:)

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  3. lembrava enquanto lia de qnd vc estava escrevendo esse texto!!
    e de td que me falava que estava colocando!
    ficou muitooo bom...a substituição do sujeito, ao inves de falar avo ou seu nome por boneca e foco nos olhos azuis!!
    beijo Te amo!

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  4. Quue texto maaais lindooo amiga!! Perfeito! Sem palavraas...Ela viu? Tenho certeza que ficaria emocionadíssima assim como todos nós ficamoos! beijos

    Gal

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